30/11/2008

CAI A NOITE DE INVERNO



Cai a noite de Inverno e as pessoas andam perdidas nos caminhos dos seus destinos, largadas ao ruído das sirenes e à destreza e ao estorvo do trânsito. Eu mais uma alma de entre as outras quebrantas pelo ar frio que avassala a malha larga, cautelosas pelo escorregadiço do pavimento traiçoeiro.

Deslocam-se, criaturas intrincadas, que cruzam e se determinam em busca de calar as suas misérias, esquecidas dos sonhos claros de futuro, enquanto apenas as luzes dos carros e os reclamos luminosos diferenciam o cenário do som do alcatrão encharcado, pisado pelos sapatos e trilhado pelas rodas.

Onde estás neste instante em que me diluo na imensidão da cidade de praças e tu és a única certeza no mundo em que me carrego ameia?

Tento ver-te através dos fumos baixos e das caras fechadas e não te encontrando nas ruas gastas por onde passo, onde tudo o que devia ser livre já foi vendido, suplico ao céu triste o reduto último. E ele responde-me através da ausência de sinais que não, e que é mesmo assim. Cedo-lhe o meu vácuo até que a idade passada e as fantasias abandonadas me façam deixar a fé, tão remota como a causa do mistério que me baixa a nuca condenada e me corta o pescoço ainda virgem.
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3 comentários:

Manuel Veiga disse...

também a Maria Antonieta cortaram o pescoço. e não eram virgem ... rss...

compreendo o teu desamparo - mas nem tudo o que é livre foi vendido...

beijo, terno.

temporaria_mente insana disse...

querida stella

desejo-te um feliz natal e que o novo ano te traga o que desejas.

tbem me sinto assim, decapitada... mutilada... trespassada... nesta época.

enfim há que pegar o touro pelos cornos e enfrentar o que se avizinha... logo logo estaremos a caminho de momentos menos angustiantes.

um beijo stella.

tudo de bom.

~pi disse...

talvez possamos juntar pescoços e dar mãos vestir verdemente

(ao menos nas

palavras

aqui...



BEIJO



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