18/08/2008

Chão de Fogo

Era árvore à chuva acorrentada a um chão de fogo,

a queimar as folhas, a secar os prantos

sem pernas ou pés, apenas um tronco longo

que lograssem procurar-te por todos os cantos

os musgos e as heras p'ra me esconder.


Esperei por ti estavam já as flores secas,

passaram as chuvas e veio o gelo,

fiquei aqui a ver correr as águas frescas

e as andorinhas a dizer

o meu corpo não quis acolher.


Fui nuvem negra em terra onde nunca chove

arruinando anseios, recusando preces rogadas
fui Cristo numa cruz que não se move
nenúfar num rio de águas paradas
com estas chagas de ti a doer.

os meus membros murchos não quiseram senão consolar-se num abraço teu,
e este coração amargurado não se aquieta sem o teu amor, não pode o fogo extingui-lo nem o correr do tempo lhe há-de bastar.

na falta do teu o meu corpo foi-se retorcendo, um tronco de árvore adoecida de morte, cada vez mais fino a perder a seiva, a evaporar-se até ficar vazio. Uma morte sem morte verificada no tempo, no segundo fatídico, não,

as árvores não morrem como os homens, vão morrendo e ao aproximar-se o fim pode estar-se durante muito tempo sem saber se estão vivas ou mortas, sabendo-se apenas que estão condenadas.

A sua alma vai-se sumindo enfim com o passar dos dias e ninguém dará por isso, mesmo que o vento assobie nos troncos nús ou que alguém tropece nas suas cascas ocas.


§

13 comentários:

~pi disse...

escura cega carne cave

[ querida borb~oleta negra

antecâmara

do coração ~ quase



ave ~

ROSASIVENTOS disse...

que o levasse
ao grande rio


e a seguir


o ondulasse
assim sem mar

((ali ficar




um nome havia
a meio leito


adormecido
gruta de peixe




água tecida
fio a pavio)

a murmurar






[ abraço

temporaria_mente insana disse...

olá Stella,

Muito obrigada, pelas tuas palavras.

Li dois ou 3 posts, especialmente este ultimo, que o li 4 vezes... 2 ontem, e 2 hoje.

É tão belo, foste tu que o escreveste, claro...

..."Era árvore à chuva acorrentada a um chão de fogo,

a queimar as folhas, a secar os prantos

sem pernas ou pés, apenas um tronco longo

que lograssem procurar-te por todos os cantos

os musgos e as heras p'ra me esconder."...

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sabes, eu parece que esqueci todas as letras do alfabeto... já não me apetece escrever, por enquanto...,quando chego ao pc, dedico-me aos enigmas que trago comigo, agarrados à mente, proliferando como uma bacteria... estou muito cansada, muito desgastada...

Claro que não posso ter descanso, nem vou ter... nasci assim... hei-de morrer assim... a LUTAR, a LUTAR, a LUTAR!

Justiça, ainda acredito nela, enquanto há vida há esperança... enquanto tiver um sopro, hei-de agarrar-me a ele...

Quando esse sopro me faltar, saberei que será o ultimo... e será tudo o que eu preciso, para fazer de justiceira...

Sim, só quem conhece os detalhes pode imaginar, o que aquela mulher, pintada de cicatrizes, olhos enrrugados de lágrimas, organizando por cores, a tarefa de sobreviver, dia após dia...

o que aquela mulher luta, Stella...

Muitos beijinhos, vai aparecendo, para eu te ler...peço-te.

Stella Nijinsky disse...

Querida MA,

Obrigada por teres vindo.
Nem sempre o Verão é mais fácil... as pessoas pensam que sim mas não.

Por vezes as palavras não saem, eu sei como é! Quem me dera ter uma palavra de conforto para ti, mas não tenho. Às vezes saber compreender a dor acaba por ser um conforto. Eu também não gosto que me digam que vai passar, prefiro que chorem as minhas lágrimas comigo, o que é, aliás, aquilo sobre o que vou escrever a seguir.

Um grande beijinho querida MA

Maria Laura disse...

Um sentimento de desespero expresso em excelente qualidade literária.

temporaria_mente insana disse...

olá Stella,

Querida amiga virtual, espero ansiosamente o teu próximo post, para poder sorver palavar por palavra_________porque preciso!

estou muito cansada, hoje especial_mente........este jogo de comentarios "esfarrapam-me" completamente, mas se o faço... é porque acho que todos merecem resposta, mesmo os anonimos.....

Muitos beijinhos

Joana Roque Lino disse...

Olá, Stella,

Muito obrigada. Um beijo.

temporaria_mente insana disse...

olá stella,

então ainda nada de novo? espero que estejas bem, amiguinha...

tenta dar-me um toque quando resolveres publicar... não quero apressar-te, leva o tempo qe precisares...

um grande beijo amiga.

Anónimo disse...

como se comenta um poema? como é que alguém comenta algo de tão pessoal e intransmissível? admiro imenso o teu fluir de palavras e ideias, os quadros que pintas.

este é mais um e nada fica a dever aos anteriores. a tua escrita tem uma qualidade constante que invejo. acima de tudo, a tua 'aparente' facilidade de transmitires ideias.

ler-te é harmonia total.

um beijo*

Manuel Veiga disse...

beijo. exprimes mto bem os sentimentos

temporaria_mente insana disse...

oi stella,


cá andamos ... vim deixar a minha marca de ferro, neste chão de fogo.


ferro e fogo, ligam bem, não achas?


beijos

temporaria_mente insana disse...

mudei de nick...

;) exquexi de dixer...

ROSASIVENTOS disse...

lugares ( onde teu nome

est-en-de


man-ta









( flor-d`água c-anta (