Cai a noite de Inverno e as pessoas andam perdidas nos caminhos dos seus destinos, largadas ao ruído das sirenes e à destreza e ao estorvo do trânsito. Eu mais uma alma de entre as outras quebrantas pelo ar frio que avassala a malha larga, cautelosas pelo escorregadiço do pavimento traiçoeiro.
Deslocam-se, criaturas intrincadas, que cruzam e se determinam em busca de calar as suas misérias, esquecidas dos sonhos claros de futuro, enquanto apenas as luzes dos carros e os reclamos luminosos diferenciam o cenário do som do alcatrão encharcado, pisado pelos sapatos e trilhado pelas rodas.
Onde estás neste instante em que me diluo na imensidão da cidade de praças e tu és a única certeza no mundo em que me carrego ameia?
Tento ver-te através dos fumos baixos e das caras fechadas e não te encontrando nas ruas gastas por onde passo, onde tudo o que devia ser livre já foi vendido, suplico ao céu triste o reduto último. E ele responde-me através da ausência de sinais que não, e que é mesmo assim. Cedo-lhe o meu vácuo até que a idade passada e as fantasias abandonadas me façam deixar a fé, tão remota como a causa do mistério que me baixa a nuca condenada e me corta o pescoço ainda virgem.
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