26/01/2009

é esta a lição da nova primavera
ela veio aqui dizer-me que o mundo existe,
franco e sóbrio,
segredou-me numa brisa perfumada
tudo aquilo que esquecem
as mentes envelhecidas
das gerações presentes,
que tantas vidas posso eu gozar…

é este o preço a pagar pelo estio
disse-me o tempo a passar pelos dias,
que o mundo é ébrio e fundo como um poço,
não há lugar a perdão
pois cravam-se-nos as falhas
nas rugas da pele e nos delírios do corpo
finda-se-nos a visão infinita
e a doçura dos Agostos.

15/01/2009

Mourning



I hurt and I grieve
And I injure myself
There’s no relief to be found
Nor in sorrow or death

§




07/01/2009

Saudades


Partimos ao final do dia para te levar. Estava quase escuro apesar de não ser noite ainda. Fomos todos atrás de ti, devagar, até lá. Era do dia que fazia, que amanhecera já sombrio e não fez por enganar.

Estava frio por entre as pedras e os mausoléus de mármore, como se a fleuma viesse mostrar a aridez que alastrou pelos corações e que marcou a terra aos olhos daqueles que por cá ficaram; como se o vento, ao agitar as folhas secas de um Outono tardio, se empinasse em revolta, atingindo-nos indistintamente por uma culpa anónima e colectiva, nesse dia em que lá fomos deixar-te.

E nós aguardámos, quedos e desalentados que te entregassem, ainda que não soubéssemos se ainda ali estavas ou se era apenas uma película vazia que jazia, o casaco com que te vestiram para te dares a conhecer ao mundo e aos outros e com o qual encetaste a tua viabilidade na terra efémera e dura. Ainda que agora oco, nós beijámos, amámos e sentimos, nos momentos ledos, o calor do abraço que te traiu.
E mais passa o tempo mais te choramos. Os anos volvem e em cada um, um dia apenas, e assim nunca deixa de ter sido ontem que os pássaros levantaram voo dos álamos magros a meio da noite, desenhando círculos na madrugada, para lembrar uma perda irreparável.


A saudade aumenta a cada desses dias.